sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Diário de uma repórter de polícia: E lá se foi 2010

Diário de uma repórter de polícia: E lá se foi 2010: "E lá se vai mais um ano! É hora de fechar a agenda de 2010 e começar a escrever a nova agenda de 2011. Começar a escrever sim mas sem deixar..."

E lá se foi 2010

E lá se vai mais um ano! É hora de fechar a agenda de 2010 e começar a escrever a nova agenda de 2011. Começar a escrever sim, mas sem deixar de lembrar de todas as coisas que aconteceram e movimentaram o noticiário de 2010. E que noticiário movimentado esse! Já começamos 2010 atolados em lama e muita chuva. Foi só uma demonstração da pauleira que vinha pela frente. Teve coleguinha que brilhou, teve coleguinha que se encrespou nessa cobertura, enfim foi só o aperitivo.

Logo depois do Carnaval da justiça, com a Tijuca campeã. O único problema é que nessa cobertura a repórter que vos fala não pôde escrever que o chopp era de graça na quadra da escola. Portugueses, muito unha de fome, venderam a cerveja na comemoração do título.

Mais um ano, muita chuva e abril chegou alagando o Rio de Janeiro. Morro do Bumba, Santa Teresa, mortos, catástrofe, lixo, água e lama. E, de férias, só fiz o que o prefeito mandou: Não sai de casa...

Já que se trata do diário de uma  repórter de pólícia, vi esse ano a máscara de vários pedófilos cair. Ainda bem! Cadeia à todos eles. Vi gente maltratando crianças. Vi gente que foi condenada porque inventou a modalidade de esporte "arremesso de criança pela janela". Enfim no atribulado 2010 que já começou no agito, a justiça olhou para os atos cometidos contra menores.

Operações foram tantas que até esqueci. Coberturas engraçadas, colegas que são folclóricos não faltaram. De colegas, só tenho a lamentar a doença do grande "Bartô,  Bartolomeu Brito do Dia, que está afastado das coberturas devido a um AVC. Saúde e força para ele em 2011.

Falando em grandes coberturas, não podemos esquecer da emblemática cobertura do caso do "Goleiro Bruno". Foram horas incasáveis no NInho do Urubu, no Flamengo, na casa do cara, no Recreio e na porta da Divisão de Homicídios. Coleguinhas da imprensa nacional se juntaram aos cariocas nos plantões que não acabavam nunca. Todos disputavam imagens. Até que o bordão que virou famoso "SE EU NÃO FIZER NINGUÉM FAZ", saiu da boca do nosso coleguinha Ernani da Record. Resultado: levou uma camerada na cabeça e ficou quieto fazendo a sua imagem do jeito que deu. O problema agora é que o bordão dele é recitado em todas as coberturas com coleguinhas morrendo de rir.

Ano de terremotos. Do Haiti. Do Lisan brilhando na cobertura do terremoto do Chile . E da equipe da repórter que vos fala vendo o Brasil perder a Copa no plantão do BRUNOOOOOOO. Ninguém merece né? Também não podemos esquecer da candidata a jornalista de um jornal popular que tascou um beijo na boca de um policial do Bope. É isso, do Bope mesmo! O affair aconteceu durante a pacificação do Morro dos Macacos! O romance do policial beijoqueiro e da jornalista fake deu o que falar!

Agora a grande cobertura ficou mesmo com a invasão do Complexo do Alemão. Tudo começou com dois carros incendiados na Grajaú/Jacarepaguá. Lá estava eu na cobertura. Colegas cobriram todos os carros, ônibus e outros incêndios até que o inesperado aconteceu. ENTRARAM COM TUDO. O CARA, O BELTRAME, SIM ELE É O CARA! Bateu na mesa e falou CHEGA!. Chamou reforços e entrou com tudo. Foi a mais emocionante cobertura da minha vida. Eu, que queria ser repórter de guerra estava lá: de coletes, estressada, tensa. Mas acompanhei tudo desde o início. Foi, sem dúvida, final de Copa do Mundo para todos o colegas que cobrem polícia. Vitória da Imprensa, Vitória da Favela, Vitória da população que assistiu aos "vermes" fugindo morrendo de medo dos tanques de guerra!

Depois do Alemão, tudo ficou mais fácil. 2010 se foi e levou com ele a realização do sonho de todo o jornalista que cobre polícia, que era participar da cobertura da tomada do Morro do Alemão. A cena dos tanques na rua e dos tanques ultrapassando as barreiras do tráfico foram lindas. As imagens dos homens e do helicóptero invandido o Alemão também. Cruzar a Joaquim de Queiroz até a Canitá sem ser com a a polícia ou mesmo ter que se abrigar de tiros, NÃO TEM PREÇO! Agora que venha a Rocinha e tantas outras favelas! Vamos na nossa cobertura diária de mais um ano e com a máxima

SE EU NÃO FIZER NINGUÉM FAZ! (não é mesmo Ernani?)

sábado, 4 de dezembro de 2010

Guerra um sonho de estudante

Quando eu entrei para a faculdade, no final da década de 80, eu tinha dois sonhos: queria fazer matérias de ecologia, viajando o mundo todo, vendo de perto animais, plantas, etc. Um outro sonho era ser correspondente de guerra. Me via nas grandes coberturas como as guerras do Iraque, Afenganistão, etc. Eu sempre via os coleguinhas no front de guerra e me imaginava no lugar deles. Me formei, o tempo foi passando e a realidade do jornalismo no Rio foi me empurrando para outras coisas... o sonho foi desaparecendo na realidade das redações, das chefias, da Cidade nervosa que engolia e acaba um pouco com o sonho da recém formada.

De ecologia, pouco fiz. Muito poucas matérias. Bom de guerra......Fui jogada na realidade nua e crua do Rio de Janeiro e acabei me especializando em "polícia" agora "jornalista da área de segurança pública" . E foi assim que fiz um curso de sobrevivência em áreas hostis em 2006 na Argentina, onde tive contatos com situações que lembravam uma guerra. Bom, dez dias de curso, cantil na cintura, máscara anti-gas,rapel, conhecimento de armas de guerra, sobrevivência na selva, longos percursos a bordo de um tanque de guerra e..........de volta à redação e à cobertura diária da segurança pública.

De 2006 para cá, quatro anos e a situação foi ficando difícil no Rio.  Bandidos nas ruas, queimando carros, ônibus, queimando veículos de trabalhadores. Bandidos armados de fuzis se dizendo os donos de territórios e implantando o terror no Rio de Janeiro. A situação chegou ao limite. No limite para mim, no limite para os moradores dessa Cidade Maravilhosa, no limite, até que enfim para os governantes. No limite para aquele senhor gaúcho de voz mansa, ar sério de quem sabe o que quer e o que faz. Bom e ele fez.

Enfim, no dia 25 de novembro, numa manhã de sol, lá estava eu: Meu sonho estava se realizando. Tanques na rua, homens de preto, de verde oliva, tanques de guerra, oficiais dando ordens. Uma avenida movimentada fechada e tomada por fuzis. No alto do viaduto mais um carro pegando fogo. Ato terrorista de bandidos que faziam de trechos dos bairros da Leopoldina seus verdadeiros castelos subjulgando toda uma população de trabalhadores, moradores de bem.

Era como se fosse o dia D.Imprensa mundial falando, transmitindo ao vivo. Os tanques desceram dos caminhões, homens de preto e verde oliva se prepararam dentro dos tanques. Foi como se um ofiical tocasse um apito e desse um ok. Era quase meio dia. Foi dado o sinal de partida. E lá se foram os tanques. Tiros do alto do morro, tensão da imprensa, tensão dos fotógrafos e cinegrafistas que queriam fazer a melhor cobertura. Carros, ônibus, motocicletas e caminhões incendiados por bandidos meio que para proteger o bunker desses narcotraficantes. A guerra havia começado.

E o cenário foi se formando. BAndidos apavorados fugiram para a favela ao lado pelo morro. Imangens ao vivo transmitindo o ato "medroso" e "covarde" desses caras que só tinham poder com fuzis nas mãos. E o campo foi avançando. Os homens de preto, os homens de verde oliva camuflado e os tanques foram tomando toda a situação. Ganharam terreno na Vila Cruzeiro e como em uma "avalanche" foram tomando terreno em direção ao Alemão.

Domingo de sol, sete e meia da manhã, era como se fosse final de Copa do Mundo. Mais homens de preto, homens de verde oliva, tanques, homens de camisetas cinza da polícia civil. Cenário pronto. Oito horas todos sobem. Ganharam o jogo de WO. E eu estava lá, de colete à prova de balas. Carro blindado. Eu subi a Vila Cruzeiro. Eu subi o Alemão.

Enfim, o meu sonho de jornalista de guerra, de correspondente de guerra acabou se concretizando na Cidade em que nasci, que cresci e que amo morar. Fui correspodente de guerra no Rio de Janeiro. Uma guerra que não pedi, uma guerra que o bom carioca jamais pensou em ter mas que se tornou necessária. Depois desse domingo 28 de novembro, o qual tive o prazer e o privilégio de participar da cobertura, acho que nossa Cidade passou a ser outra. Enfim SOU AGORA UMA CORRESPONDENTE DE GUERRA.

Do sonho da estudante da faculdade de jornalismo? Falta viajar fazendo matérias de meio ambiente.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

A Guerra voltou!

Coleguinhas! Acabou a eleição. Cabral foi reeleito e a época de tiro porrada e bomba voltou! Depois de meses no ostracismo, brincando de gato e rato com bandidos que insistem em fazer arrastões a polícia subiu o Morro da Serrinha. Quatro fuzis apreendidos e dois mortos. E vamos que vamos. Dia das Crianças na SErrinha foi com distribuição de balas. Balas de calibre 556, 762 e 9mm.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

MAIS UMA DO DICIONÁRIO DUS PESSUAL TUDO

Essa ouvi hoje de um policial, que não deixa de fazer parte "dus pessual tudo".


"O cara morava em um terreno onde as casas eram GERMINADAS.

Socorrooooo! Será que nas tais casas havia muitos germes????????????

Repórteres de polícia sigilosos e suas fontes maravilhosas

Que todo repórter de polícia é sigiloso isso não é novidade. Lá muito antigamente, quando eu ainda nem sonhava em ser jornalista, esses profissionais tinham a tiracolo seus famosos "sebosos", aquelas agendas caindo aos pedaços, com folhas amareladas que continham em seu interior a chave para resolver qualquer caso de polícia ou qualquer matéria absurda que o chefe pedia. O tempo foi passando e esse repórter, que vivia em portas de delegacias e nas ocorrências de rua, muitas vezes parecido até com o próprio policial foi mudando. Chegaram os bips e teletrims, as agendas eletrônicas, os computadores e os telefones celulares. A essência, no entanto, continuou a mesma.

Claro que hoje ninguém anda disfarçado de policial e não tem mais o seboso. A agenda passou a ser no celular ou no nextel ( diga-se de passagem eu tenho os dois e se perder a agenda estou perdida). Mas atitudes são as mesmas. Tem uns que travestidos de repórteres de TV, andam de terno e gravata e quando falam ao telefone, quase que sussuram. Outros, de fala mansa, falando sempre muito baixo, quando notam que algum colega distraído se aproxima de seu computador fecham tudo para que não sejam observadas suas anotações e suas agendas. Tem até a máxima do colega, em uma apuração muito sigilosa, mandou o motorista seguir. Parte da equipe, o piloto do diário carioca perguntou para onde e o colega disse: é sigiloso. Segue que no caminho explico.

Tem a máxima também de um colega que seguia por uma avenida movimentada do Rio em cima de um caminhão de abacaxi. O pior é que atrás desse caminhão, onde o " profissional sigiloso" se escondia, havia o carro de reportagem tarjado com o nome do veículo onde trabalhava e com o fotógrafo. Enfim coisas de repórteres de polícia investigativos.

Enfim, o pior de tudo, da classe de repórtes de jornalismo investigativo, é a classe de puxa sacos. Cobrindo essa área que hoje se denomina "segurança pública" e também na área investigativa, nunca tive a cara de pau de puxar saco da fonte. Faço matérias, sou legal, preservo a fonte mas puxar saco, nunca!


E foi uma cena explícita de babação que vi quando certo dia, estava com um grupo de jornalistas no mesmo restaurante de comida a quilo e vi um delegado entrando no restaurante. Ele viu jornalistas, cumprimentou todos, serviu seu prato, pesou e foi almoçar tranquilamente e sozinho em uma mesa do self service. Não cabia ali convidar o delpol para sentar conosco porque era um momento em todos se alimentavam de uma maneira rápida para seguir para as redações e colocar todo o material apurado no papel, ou no computador. Daí que o tal repórter sigiloso, muito bem vestido, deixa seu prato na mesa pela metade, saca um nextel como se estivesse falando com alguém, muito baixo claro e vai até a mesa do Doutor Delpol apertar a mão dele. O Dr. Delpol já estava terminando o almoço e levantou para apertar a mão do repórter como cortesia. Resultado: o repórter não satisfeito pegou sua boleta de pagamento, deixou a comida pela metade e seguiu com o Dr. Delpol tentando inventar uma história e alimentando o "papo ocasional". Socorroooooo!!!!!!!

Tem a outra do muito sigiloso, que da redação, saca do telefone e liga para vários doutores delpol se identifica e depois segue como que rezando um rosário, elogiando todos os feitos daquela equipe naquele dia. Depois se apresenta de novo e pede a matéria. É diz e tem fama de "senhor de todas as fontes". É de doer. Outro, de preto, se misturou aos policiais. No meio da matéria ele fingia não conhecer os colegas para continuar a receber informações privilegiadas de suas fontes.

Os causos não param por aí. Todo repórter de polícia que se preza tem suas fontes, seus segredos, suas chaves secretas para descobrir qualquer entrelinha de um caso de vulto. Todo repórter investigativo sempre vai ter aquela fonte que soluciona qualquer incógnita e joga no jornal do dia seguinte a matéria que todos vão suitar e pressionar as autoridades a, enfim, falar a verdade. É a vida. É o jornalismo. Mas que chega a ser folclórico, pitoresco, isso chega. É o perfil desses profissionais que assinam nossas páginas do dia a dia.

sábado, 14 de agosto de 2010

Nova eleição do "Repórter Sem Noção"

Resolvi reeditar a eleição do repórter sem noção. Lembra daquele coleguinhaque na rua sempre fala besteira? Lembra daquele coleguinha que sempre faz perguntas que não cabem na cobertura? Pois é eu conheço muitos. Sei de uma que esperava ansiosa por uma operação policial que não começava nunca e acabou ligando para a associação de moradores da favela para perguntar se a polícia já havia entrado na favela. Conheço outro que quer ser mais famoso que a notícia. Ou seja, ele é a própria notícia. O fato é que tem que interagir com ele. Enfim, temos vários exemplos nesse nosso dia a dia de cobertura da crônica policial ou da pauta que o chefe nos empurra. Enfim, aguardo indicações para o prêmio. Seria bom a indicação de vários né? Faríamos um primeiro, segundo e terceiro lugares.

Sugestões de verbetes para o Dicionário

Voltei a escrever cheia de disposição. Por isso aguardo dos coleguinhas sugestões de palavras ouvidas por aí em comunidades para o "Dicionário dus Pessual Tudo".

Considerações sobre as UPPs

Jurei que não ia escrever nada sério nesse meu blog. Jurei que seriam apenas comentários engraçados da cobertura diária da crônica policial. Mas diante da implantação das UPPs tenho que me dobrar. O projeto, na verdade, não era nem plano de governo no início de 2007. Para mim, a primeira UPP foi na verdade o "Quintal do Bope", ou a Favela Tavares Bastos onde fiz uma matéria em julho de 2007 com o título: " Nem milícia, nem tráfico, só o estado". Ali pude ver o que era uma favela pacificada. Para se instalar no local onde fica o quartel, o Bope teve que entrar na favela e expulsar o tráfico. Tinha até gringo morando lá. Enfim, depois dessa experiência, acho que os governantes resolveram encampar a idéia.

Vamos lá: UPP é muito bom. Pacificar favelas, fazer com que moradores retomem a cidadania e que não vejam mais a ostentação de fuzis é muito bom. É gratificante como repórter e como cidadã poder subir no plano inclinado do Dona Marta sem preocupação e poder usufruir daquela linda paisagem. No Cantagalo, onde fui uma vez em busca de um cemitério clandestino lá no alto do morro, a paisagem é maravilhosa. De um lado Ipanema, Arpoador e Leblon e de outro a Lagoa. Hoje esse visual maravilhoso pode ser observado por turistas. Agora com tanta UPP, com tanto projeto dando certo, com dignidade chegando para moradores de bem, falta perguntar quando tudo isso chega à comunidades miseráveis. Fazer UPP na Zona Sul e na Tijuca, locais que são vitrines da Cidade é fácil.

O problema é que temos no Rio comunidades como a Serrinha (berço do samba) , o tradicional Juramento, uma comunidade chamada "Terra Nostra" em Costa Barros, onde o piso dos barracos ainda é de chão batido, que ainda estão sob o julgo do tráfico. Pior que sob a mira dos fuzis é que estas comunidades estão doentes com o crack. São milhares de miseráveis perambulando feito zumbis dando seus poucos reais para esses homens em busca de uma "pedrinha" que os faça fortes e felizes por segundos. São miseráveis com fome observados por pessoas também muito pobres mas dignas. Todos a espera do milagre da UPP. A espera da invasão social. E essas favelas não possuem vista maravilhosa e sequer são conhecidas pela burguesia mas clamam por "choque social".

Vamos expulsar o tráfico sim. Vamos expulsar os homens armados sim. VAmos fazer o direito do cidadão prevalecer sim. Mas não podemos esquecer dessa parcela da sociedade que precisa do projeto. Dessa parcela de joves que só vislumbra ascenção se for pela venda de drogas. Dessa parcela de pessoas que vive sob ameaça de fuzis. Admiro e tiro o chapéu para a UPP , para a concepção do projeto, mas tenho que excercer minha parcela de cidadania. Tenho que reclamar pelas Donas Marias e seus Josés que acordam na madrugada, ainda sem a luz do sol e saem de favelas como Rebu, Taquaral, Pedreira, Jacarezinho, Alemão e são obrigados a ver homens armados com fuzis, loucos, drogados vendendo drogas.

O processo é lento, eu sei mas que essa pacificação com invasão social chegue também à favela Terra Nostra para que o "seu José" tenha condições de acordar cedo para trabalhar sem ver o tráfico e voltar feliz com o seu dinheiro para fazer o "piso" de seu barraco que ainda é de chão batido.