sábado, 14 de agosto de 2010

Nova eleição do "Repórter Sem Noção"

Resolvi reeditar a eleição do repórter sem noção. Lembra daquele coleguinhaque na rua sempre fala besteira? Lembra daquele coleguinha que sempre faz perguntas que não cabem na cobertura? Pois é eu conheço muitos. Sei de uma que esperava ansiosa por uma operação policial que não começava nunca e acabou ligando para a associação de moradores da favela para perguntar se a polícia já havia entrado na favela. Conheço outro que quer ser mais famoso que a notícia. Ou seja, ele é a própria notícia. O fato é que tem que interagir com ele. Enfim, temos vários exemplos nesse nosso dia a dia de cobertura da crônica policial ou da pauta que o chefe nos empurra. Enfim, aguardo indicações para o prêmio. Seria bom a indicação de vários né? Faríamos um primeiro, segundo e terceiro lugares.

Sugestões de verbetes para o Dicionário

Voltei a escrever cheia de disposição. Por isso aguardo dos coleguinhas sugestões de palavras ouvidas por aí em comunidades para o "Dicionário dus Pessual Tudo".

Considerações sobre as UPPs

Jurei que não ia escrever nada sério nesse meu blog. Jurei que seriam apenas comentários engraçados da cobertura diária da crônica policial. Mas diante da implantação das UPPs tenho que me dobrar. O projeto, na verdade, não era nem plano de governo no início de 2007. Para mim, a primeira UPP foi na verdade o "Quintal do Bope", ou a Favela Tavares Bastos onde fiz uma matéria em julho de 2007 com o título: " Nem milícia, nem tráfico, só o estado". Ali pude ver o que era uma favela pacificada. Para se instalar no local onde fica o quartel, o Bope teve que entrar na favela e expulsar o tráfico. Tinha até gringo morando lá. Enfim, depois dessa experiência, acho que os governantes resolveram encampar a idéia.

Vamos lá: UPP é muito bom. Pacificar favelas, fazer com que moradores retomem a cidadania e que não vejam mais a ostentação de fuzis é muito bom. É gratificante como repórter e como cidadã poder subir no plano inclinado do Dona Marta sem preocupação e poder usufruir daquela linda paisagem. No Cantagalo, onde fui uma vez em busca de um cemitério clandestino lá no alto do morro, a paisagem é maravilhosa. De um lado Ipanema, Arpoador e Leblon e de outro a Lagoa. Hoje esse visual maravilhoso pode ser observado por turistas. Agora com tanta UPP, com tanto projeto dando certo, com dignidade chegando para moradores de bem, falta perguntar quando tudo isso chega à comunidades miseráveis. Fazer UPP na Zona Sul e na Tijuca, locais que são vitrines da Cidade é fácil.

O problema é que temos no Rio comunidades como a Serrinha (berço do samba) , o tradicional Juramento, uma comunidade chamada "Terra Nostra" em Costa Barros, onde o piso dos barracos ainda é de chão batido, que ainda estão sob o julgo do tráfico. Pior que sob a mira dos fuzis é que estas comunidades estão doentes com o crack. São milhares de miseráveis perambulando feito zumbis dando seus poucos reais para esses homens em busca de uma "pedrinha" que os faça fortes e felizes por segundos. São miseráveis com fome observados por pessoas também muito pobres mas dignas. Todos a espera do milagre da UPP. A espera da invasão social. E essas favelas não possuem vista maravilhosa e sequer são conhecidas pela burguesia mas clamam por "choque social".

Vamos expulsar o tráfico sim. Vamos expulsar os homens armados sim. VAmos fazer o direito do cidadão prevalecer sim. Mas não podemos esquecer dessa parcela da sociedade que precisa do projeto. Dessa parcela de joves que só vislumbra ascenção se for pela venda de drogas. Dessa parcela de pessoas que vive sob ameaça de fuzis. Admiro e tiro o chapéu para a UPP , para a concepção do projeto, mas tenho que excercer minha parcela de cidadania. Tenho que reclamar pelas Donas Marias e seus Josés que acordam na madrugada, ainda sem a luz do sol e saem de favelas como Rebu, Taquaral, Pedreira, Jacarezinho, Alemão e são obrigados a ver homens armados com fuzis, loucos, drogados vendendo drogas.

O processo é lento, eu sei mas que essa pacificação com invasão social chegue também à favela Terra Nostra para que o "seu José" tenha condições de acordar cedo para trabalhar sem ver o tráfico e voltar feliz com o seu dinheiro para fazer o "piso" de seu barraco que ainda é de chão batido.